terça-feira, 5 de junho de 2012

...é preciso raciocinar a fé.

Acreditar é muito simples. Basta um objeto de crença e um conjunto de ideias e vivências que nos conecte a esse objeto de maneira coesa. Esse conceito é o mais simplório que se pode desenvolver sobre a fé. Por isso mesmo, talvez, seja o conceito mais aplicado. As pessoas creem. Pronto. Não existe um raciocínio sobre a crença. A fé surge como uma relação mágica entre o crente e seu objeto de culto.

Existem situações diversas, no entanto, em que somos chamados a testar nossa fé. Via de regra, quando cremos por crer, nos vemos perdidos em situações difíceis. A esperada calmaria que muitas pessoas buscam ao crer em algo contrasta muito com os problemas enfrentados no auge da crença. Dessa forma, o crente que não raciocina sua fé se torna uma pessoa de fé vacilante, um fanático. Quando as coisas ocorrem de acordo com sua vontade, a fé vive no auge e lhe permite tudo. Todavia, quando problemas surgem, o desespero arrebata todo e qualquer estrutura de fé; estrutura esta moldada sem o cimento forte da razão.


Em qualquer campo de nossas vidas (religioso, científico, pessoal, ...) existem aspectos que nos pedem a crença. Por isso tamanha é a importância de se pensar em como crer. Não devemos abandonar pressupostos diante de dificuldades. A busca pelo entendimento sim deve ser elevada, moldando os conceitos que nos levam a crer em algo. Fé não é sinônimo de "atração de bons acontecimentos" ou de "fuga de decepções". Fé pressupõe entendimento e razão como base para o nosso complemento interior.

Nesta última semana, um dos maiores exemplos de fé raciocinada e equilibrada que eu conheci, partiu para uma nova jornada. O Sr. Francisco de Assis, mesmo encontrando-se em fase terminal no leito de um hospital, ensinou a todos que o acompanharam nos últimos meses o que é ter fé. As dores incomodavam mesmo com a administração de morfina. Diante desse quadro porém, ele mantinha seu discurso de crença em uma recuperação breve. Diante das maiores dificuldades de um canceroso, ele manteve-se firme e agradecido a Deus por tudo que lhe ocorria. Um homem de fé exemplar.

Devemos crer. Mas crer de acordo com o crivo de nossa razão. Nossa fé deve ser um castelo construído com  fortes bases para que não seja derrubado diante de qualquer ameaça. A estrutura pode até se abalar, mas o cimento da razão não permite um desabamento completo.

2 comentários:

  1. é moço, vc invandiu meu coração de emoção ....lembrei-me da casa construída sobre a rocha, sobre a areia e sobre o pedregulho....lembrei-me de sua determinação em seu ideal , e principalmente por isto não te envaidecer....lembrei-me da dor sentida , calada e ao mesmo tempo correta e coerente de seus pais ao ver um filho tão bondoso em terras tão longas...isto é FÉ...é ter a certeza do melhor, mesmo que este ainda venha sobre o gosto amargo da saudade e do espinho...acredito mesmo que FÉ anda de mãos dadas ao AMOR pois só assim ela é fiel ao seu principio maior e unico : DIAS MELHORES PARA TODOS...que Deus o abençõe sempre e seja sempre a FÉ aliada ao AMOR o FOCO de nossas vidas!!!!

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  2. Lendo isso, lembrei-me do que filosofa Nietzsche acerca do comportamento humano frente à religião, quando o equipara àquele que tem o homem que recorre ao álcool como atenuante de seus problemas. Desse modo, quem pratica a fé de maneira superficial acaba por se perder ainda mais na busca pelo conforto espiritual ou, na maioria das vezes, assujeita-se às abstrações dogmáticas oriundas de interpretações inconsistentes feitas por indivíduos também embriagados pela fé relativizada. Por outro lado, quem se diz completamente aquém a qualquer teísmo mente, na medida em que, em muitos casos, engaja-se tão assentemente na busca pela verificação empírica da inexistência da supra-humanidade, que, pode-se dizer, já se caracteriza como crente dessa obcecação. Assim, a terceira via – a meu ver, sempre a mais sensata, visto que a sua insurgência só se dá a partir da prévia existência de dois outros ideários contrastantes – é a melhor a ser seguida, já que, neste caso, consiste na prática conscientizada da fé edificada sobre as bases racionais essenciais que provêm do exercício de reflexão e metadiscurso de cada um.

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